Pensamento de domingo: o Ensino remoto mostrou que nossos estudantes precisam da escola para aprender. E isso não é bom.

O título desta postagem é polêmico, porém proposital. Um mergulho sobre os desafios do ensino remoto em 2020 no Brasil faz a gente pensar no quanto, na média, nosso sistema educacional é frágil. Estamos amarrados em problemas estruturais (de acesso, conectividade, desigualdades socioeconômicas, ensino, etc.) já evidenciados por centenas de especialistas, educadores e palpiteiros do nosso ramo.

No entanto, gostaria de retornar de forma breve com um tema, que já explorei em um post anterior do blog, mas por uma perspectiva diferente. Por que grande parte dos nossos alunos só aprende na escola ( espaço físico)? Não estou dizendo que não deveriam ir para a escola, mas essa é uma reflexão necessária.

O ponto é essencialmente entender o porquê de, apesar dos esforços hercúleos para a produção de materiais, plataformas de ensino, apostilas e outras produções construídas ao longo de 2020, temos uma expectativa de receber alunos com enormes lacunas de aprendizagem e perdas que ainda precisaremos de algum tempo para mensurar? Trabalhamos para nada?

Nossos alunos são incapazes de aprender em casa? De certa forma, parece que sim.

Então perdemos tempo em construir soluções pedagógicas para o ano de 2020? Claro que não. A escola é uma instituição social de primeira grandeza. Sua função vai além da escolarização formal. Ela tem um papel chave na formação cidadã. O elo entre a escola e a sociedade deve ser preservado a qualquer custo. E foi isso que milhões de professores fizeram no front da pandemia. Uma operação de guerra para manter nossos alunos virtualmente próximos à escola.

Mas segue a pergunta: por que nossos alunos não conseguiram aprender tanto quanto se esperava? Se o resultado final dessa história dependesse apenas do esforço em produzir materiais pedagógicos (apostilas, aulas na TV, Youtube, gamificação) e boas ferramentas de comunicação, talvez o resultado fosse melhor.

Não existe apenas uma resposta certa para esta pergunta. Muitos elementos precisam ser apontados. Eu vou focar em apenas um nas próximas linhas. Os próximos parágrafos têm a ver com o que esperamos que nossos alunos sejam capazes de fazer com tudo que foi produzido para resolver o problema do ensino durante a pandemia.

A aprendizagem é um processo multifacetado. Não depende só do professor, tampouco do conhecimento rotulado nos materiais. Temos que olhar para o aluno. Em um modelo onde afastamos ele do professor (ensino remoto), pode ter faltado alguma coisa para a “mágica” acontecer. E de fato faltou bastante coisa.

Mas a nossa provocação vai na seguinte linha: Quem sabe o estudante não estava pronto para aprender longe da escola (de forma presencial).

Veja bem. Não estamos falando em aprender sem professor. Mas se o aluno (especialmente o mais velho) não é capaz de conduzir de forma autônoma o seu aprendizado, temos um problema.

O controle e o adestramento ainda são princípios ocultos que perpassam o trabalho na escola. Nossos alunos são extremamente dependentes dos processos tradicionais de ensino, logo, dependem mais dos professores do que realmente deveriam.

A tentativa de reproduzir modelos presenciais na modalidade do ensino remoto reforçam este desafio: nossos alunos não parecem preparados para a autonomia, tampouco para construir processos de aprendizagem orientados pela experimentação e protagonismo.

Essas duas “habilidades” não são inatas. Assim como aprendemos a contar ou a ler, é preciso promover de forma intencional a capacidade de desenvolver o autoconhecimento cognitivo. Um aluno “copista” tem as ferramentas necessárias para aprender sozinho?

O aluno precisa se conhecer. Isso significa entender COMO vai aprender e estabelecer caminhos próprios para experimentar a aprendizagem. Isso significa ser capaz de APRENDER a APRENDER.

Tivemos, antes da pandemia, a oportunidade de transformar o autoconhecimento num objetivo intencional da escola. A BNCC e muitos estudos anteriores à ela já apontavam isso. Não fizemos o dever de casa e o resultado está no decréscimo dos níveis de engajamento dos estudantes nas atividades a distância durante o ano de 2020.

Na prática, muitos estudantes não souberam por onde começar a responder os longos roteiros de exercícios da forma como faziam na escola. No primeiro ou segundo obstáculos, procuraram o professor. Mas onde está o professor se não temos o horário da aula? O tempo de mediação pedagógica ficou muito menor que o usual.

E se ele não está disponível, temos mais um problema. Muitos estudantes não desenvolveram a resiliência para continuar a tentar ou não entendem qual o melhor caminho para prosseguir e buscar suas próprias respostas para os problemas propostos.

Esquecemos de ensinar aos alunos que o aprendizado depende deles, e não somente do professor. A dádiva de aprender depende do entendimento sobre como cada estudante organiza seus conhecimentos e vivências para construir algo novo. Quando ele não se conhece, a única rota segura é a indicada pelo professor.

Não dá para pensar no desastre educacional da pandemia sem um olhar de ressignificação do papel dos alunos no espaço onde a aprendizagem acontece. E pode não ser a escola, em alguns momentos. Certamente teremos em 2021, um caminho longo de retomada do funcionamento das escolas.

Mas que essa estrada passe, além da recuperação da aprendizagem, por uma reconstrução profunda do papel da escola na formação integral dos estudantes.

2 comentários em “Pensamento de domingo: o Ensino remoto mostrou que nossos estudantes precisam da escola para aprender. E isso não é bom.

    1. Boa tarde meu IRMÃO. Infelizmente o processo ensino-aprendizagem no nosso país para os nossos alunos somente irá acontecer com a presença física de um PROFESSOR. Precisaremos MELHORAR muito sob todos os aspectos para avançarmos diante dessa pandemia.
      Abraços. Fique com Deus.

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